Nessa época de junho frio, nublado, repleto de fumaça, fogos e fogueiras, o nordeste vira um imenso arraial matuto, sonoro e aromático. As festas juninas são uma tradição tão forte do meu lugar, de ricos e pobres, que repercutem do sertão ao litoral. No rádio e difusoras das cidades não falta o forró de raiz, o forró pé-de-serra. No céu, os fogos de artifício, bombas e rojões. No chão, douradas e quentes fogueiras, alegres quadrilhas, simpatias para arrumar casamento, adivinhações, bandeirinhas coloridas. Nas mesas, fartura de aromas e sabores: canjica (curau), pamonhas, bolos de milho, bata doce e pé-de-moleque, galinha de capoeira, macaxeira, cuscuz, queijo de coalho, milho cozido e/ou assado em brasas de fogueira, tapioca, sequilho, munguzá doce e salgado, cocadas de coco.
À parte alguns exageros, gosto dessa festa que tanto me lembra a infância, os meus tempos de menina do interior, as cidades provincianas, as casas dos meus pais, dos meus avós, dos amigos, dos vizinhos - que nessa ocasião ainda se igualam, compartilhando do caldo da mesma cultura. É comum que amigos e familiares troquem pratos de comida, envoltos em coloridos panos, reunam-se para cear e se esquentarem ao calor da fogueira. É usual que animados grupos de amigos e casais procurem os forrós na cidade ou nos caminhos da roça, e dancem a noite inteira, ao cheiro no cangote, ao som da sanfona, do triângulo e do zabumba, do baião de Luiz Gonzaga.
Nessa época, sempre sinto uma vontade irreprimível de voltar ao meu interior. Sei que lá os amigos de outrora já não se encontram; estão distantes, dispersos. Sei que lá o forró universitário inunda os arraiás, e a comida, antes farta, já não abunda todas as mesas. Mas, na essência, a festa não perdeu sua identidade, e sei que, numa esquina qualquer de Juazeiro do Norte ou de Pesqueira, de Santa Cruz ou Guarabira, o que ainda resta daquelas noites iluminadas, me bastaria para ter o meu mundo de volta. Ao menos na saudade do meu passado singelo.
Nem fale! Essas festas tambem sao especiais na minha lembranca... As melhores, na minha opiniao! beijao,
Posted by: Fer Guimaraes Rosa | 29-06-2006 at 23:39
Pôxa muito bonita a narrativa de suas lembraças das Noites de São João... Que saudade já estou! Esse é especificamente o melhor período do ano no Brasil (Nordeste, pricipalmente). A culinária tão rica aproveitando o milho de toda e qualquer forma! Canjica, Mucunzá, Bolo de Milho... mil e uma...
Também tenho lembranças de lugares, pessoas e cheiros... (nossa quantos cheiros!!!) De dançar, puxar aquela quadrilha organizada ou improvisada... Eita Nordeste lindo da peste!!! Pena q seja tão mal visto pelo prório resto do Brasil e pelo resto do mundo! mas eu? Eu me recuso a aceitar a imagem de sofrimento,fome, dor, doença...
Gosto de falar das noites de conversa, os causos, menino de pé no chão correndo livre, da maravilhosa culinária, dos índios, lendas, das danças (meu Deus qtas danças q nem mesmo os cearenses conhecem!) as noites de reisado, bumba meu boi, caninha verde, coco de roda, coco de praia... Tão vasta essas nossa Cultura Popular!!! Não podemos nos esquecer nunca.
É isso... Inté
Posted by: Arêtha | 11-11-2006 at 16:14
Arêtha, devemos ter, então as mesmas origens nordestinas. Vc realmente sabe que temos razões suficientes para valorizar as nossas raízes. Há muita beleza nessa cultura disseminada pelo mundo a fora. Inté.
Posted by: Gorete | 14-11-2006 at 10:15