A duras penas tento acomodar a rotina doméstica com os trabalhos de escreveção. Muito sufoco para equilibrar tudo no trabalho, atendendo a tudo e a todos, sem ficar devendo nada a ninguém. O pior, é a disposição que se tem minado gradativamente. E a dispersão que é renitente. Creio que tem tudo a ver com carência de vitaminas. Tenho negligenciado a dieta, o monitoramento médico. Ainda capricho nas saladas e no arroz-com-feijão, de olho também nos excessos. Mas, há um bom tempo não tomo a clorofila, nem a linhaça; as caminhadas estão cada vez mais esparsas. E a cozinha, largada às traças, digo, às favas.
Por isso, me pego a pensar na aventura (ou na desventura, não sei), do que é ser mulher, mãe, dona-de-casa, cozinheira, empregada doméstica, nos dias de hoje. Mais, especificamente, me pergunto quem é essa mulher, dentro ou fora do seu espaço culinário, por assim dizer.
Atualmente, a nova secretária que contratei tem sido de pouca serventia no departamento culinário. Pouco criativa e inexperiente, ainda vai levar um tempo para mostar resultados. O pouco tempo que dispenso na orientação tem sido insufciente para uma melhor compreensão de tudo.
Nessa situação, alimento uma série de contradições internas. Reconheço a precarização e a inedequação dessa categoria de trabalho nos dias atuais. Ao mesmo tempo, constato a impossibilidade de mudar a minha realidade, que corresponde à realidade brasileira do trabalho feminino.
Preservamos hábitos seculares em família, ao mesmo tempo em que somos (nós, mulheres) obrigadas a nos adaptar às novas novas exigências sociais no mundo do trabalho. Trabalhamos em tempo integral, nos esforçamos para nos adequar às mudanças (novos papéis e atribuições funcionais), assumindo novas responsabilidades, mas continuamos presas ao nosso tradicional papel de dona-de-casa, de cozinheira, de chefe da cozinha. Cozinhar, é bom, oh, yes. Mas, estou me referindo a uma condição escravizante e sem melhorias de compartilhamento de tarefas ou mudanças da mentalidade masculina, a curto prazo.
Neste aspecto, pouca coisa tem mudado, principalmente, no nordeste - não obstante as discretas e inegáveis conquistas. Aqui, a maioria dos homens ainda não cozinha e nem admite reformular seus conceitos. Em casa nordestina, de modo geral, ainda é a mulher quem dá de comer. Quando ela também trabalha fora, precisa dar conta de uma dupla jornada. Essa é a minha realidade, igual à de tantas mulheres brasileiras.
Por isso, a presença da doméstica em nossos lares é tão valiosa, sendo, entretanto, tão pouco valorizada. Particularmente, eu gostaria de implementar umas idéias mais modernas a esse respeito. Considero que o trabalho doméstico é bastante precarizado e, no mais das vezes, pessimamente remunerado, sem direitos trabalhistas e proteção social, sobrecarregando, sobretudo, as mulheres mais pobres e menos informadas sobre seus direitos. Os países desenvolvidos já avançaram nessa questão, terceirizam esses serviços de uma forma diferente; de modo que a figura da empregada, praticamente, desapareceu.
De fato, mesmo em se tratando de iniciativas paliativas e limitadas em termos de direitos da mulher, aqui, o nosso país ainda é considerado mais atrasado do que muitos outros latino-americanos.
Na minha modesta opinião, do ponto de vista das donas-de-casa que trabalham fora e se tornam executivas, e, comparativamente com a situação das empregadas domésticas, as mudanças não se traduziram em melhorias de condições de vida. Ao contrário, vejo uma deterioração - particularmente em relação ao trabalho e aos encargos familiares — que atinge especialmente as mulheres mais pobres. E não é um fenômeno exclusivo dos países subdesenvolvidos; ocorre também nos países centrais, embora os efeitos sobre os primeiros se manifestem de forma mais incisiva. E todas as mulheres tornaram-se mais sobrecarregadas e exploradas.
O fato é que quanto mais galgamos novos patamares profissionais, ampliamos novos espaços e arregimentamos mais trabalho fora de casa, mais dependente a família torna-se da personagem da empregada doméstica.
Não raro, e, principalmente quanto me encontro assoberbada, a eficência cai, a disposição vai pras cucuias, a cozinha vira o retrato do passado e a pressão recai pesadamente sobre a figura da empregada; sinto uma necessidade premente de revisão de papéis, de uma reorganização de como nós, criaturas que se destinam a viver junto, mulheres e homens, compartilhamos e realizamos as necessidades humanas.
Gorete, td q vc escreveu é a mais pura realidade de uma dona-de-casa brasileira.
As vz muitas amigas me perguntam como eu "consigo" dar conta do recado aqui sendo sozinha sem ajuda de ninguém. Fa§o as tarefas do lar além de cuidar das crian§as.
Acredito q aqui além da praticidade (ter todos eletrodomesticos)temos a ajuda do marido.Homem aqui faz tudo não existe este "machismo brasileiro". Desde a creche as crian§as aprendem a cozinhar e tomam gosto pela culinária.
Ano passado o sobrinho do Tomas completou 13 anos e ganhou de presente de uma tia um livro de culinária. Achei interessante. Qual o brasileiro q faria isso?
Bjos e bom final de semana
Posted by: Neuma Jonsson | 31-08-2007 at 10:13