Durante o ano, turnover não foi o único gargalo de minha cozinha. O segundo semestre não foi fácil. Às voltas com meus alfarrábios de estudante, eu tinha de arrumar encrenca também por outras vias. Decidi trocar o piso dos cômodos da frente de minha casa. E a cozinha, necessariamente, estava incluída. Pensava poder tocar a obra, aparentemente simples, e só para reparos [nada de reforma, nem colocação de nada novo, a não ser o piso], sem grandes pretensões, em duas semanas. Tudo havia sido milimetricamente planejado, até porque não dispunha de outros espaços para acomodar mesa, fogão, geladeira, freezer, nem como praticar as refeições, lavar louça, sem uma inevitável revolução. A cozinha foi improvisada na sala de estar e a lavagem de louças era feita na pia da churrasqueira, no jardim - um verdadeiro périplo.
Nada, nada ocorreu como havíamos planejado. Falar que isso aqui virou um caos, é eufemismo. Duas semanas viraram mais de dois meses de quebra-quebra, poeira, barulho, stress com pedreiros, orçamentos estourados, serviços mal feitos, péssimos acabamentos, desorganização, atrasos e atrasos. Sem falar que alguns materiais e utensílos de minha cozinha foram parar - muitas vezes sem saber como - nessa operação de guerra. Toalhas de mesa viraram cobertas de proteção de cimento, peneiras e bacias foram surrupiadas para preparo de massas, garrafas térmicas ficaram semi destruídas, extensões elétricas simplesmente sumiram, chegaram a quebrar pias, interruptores e tomadas antigas da cozinha, preservados há quase vinte anos. Nem vou relatar mais, porque tenho gana...
Por esse stress, cansaço e revolta pela situação, não fiz uma foto desse reboliço, e interditei a cozinha para produção do que não fosse trivial. Como [não] se vê, mas, por razões óbvias, essa narrativa não é ilustrada.
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