O Bolo de Rolo, quem diria, tem uma história curiosa. Apreciado por dez entre dez nordestinos, conforme o Terra Magazine, o seu antecedente não era tão doce e surgiu a partir da adaptação do 'Colchão de Noiva' português:
Por Lectícia Cavalcanti
"O Brasil não conhece o Brasil. Mas busca essa identidade, ainda em construção, na língua, no futebol e nas novelas de televisão. Também em cantos, danças, jeitos de ser e de falar, crenças populares e culinárias. Prova disso é que Amanda Rossi e sua mãe, leitoras paranaenses da coluna, perguntam sobre origem e preparo do bolo de rolo. Começo por lembrar que as damas portuguesas se instalaram, nessa terra a que primeiro chamaram Ilha de Vera Cruz, nas casas grandes dos engenhos de açúcar.
Com elas vieram, na bagagem, suas cozinhas como tinham em Portugal - chaminés francesas, fogões, fumeiros, pesados tachos de cobre, caldeirões, algüidares e potes. Mas aqui acabaram fazendo adaptações muitas. Primeiro tiveram que dividir espaço, na cozinha, com índias e com escravas africanas. Depois aprenderam com essas índias que, no nosso calor tropical, melhor lugar para colocar a cozinha era fora da casa. Debaixo de um "puxado". Passando então a usar "jirau" (mesa com varas de madeira que servia para cortar e limpar as carnes), "tempre" (tripé de pedra ou ferro onde se apoiavam os panelões no fogo) e utensílios que não conheciam na Europa - panela de barro, colher de pau, pilões, urupemas, cuias, e cabaças.
Tiveram também que esquecer ingredientes que estavam habituadas a usar - maçã, pêra, marmelo, amêndoas, pinhões, cravo, canela e gengibre. Em troca provando novos gostos da terra - caju, goiaba, banana, abacaxi, castanha de caju, amendoim, milho, coco, mandioca. Mas, sobretudo, começaram a modificar boa parte das receitas originais que faziam em sua terra distante. Substituindo ingredientes.
Assim nasceu no Nordeste o Bolo de Rolo, a partir de adaptação do "colchão de noiva" português - trocando, na receita, seu recheio de amêndoa por um de goiaba. E passou-se a enrolar esse bolo em camadas cada vez mais finas. Como um rolo. O nome vem daí. A receita é a mesma, em todos os estados do Nordeste. Mas o de Pernambuco é diferente de todos os outros, pela maneira de fazer. Sobretudo pela delicadeza no jeito de enrolar as camadas. Diferentemente do Raimundo dos versos de Drummond, que mesmo não sendo solução para nosso vasto e insensato mundo, no bolo de rolo, esse rolo do bolo é solução e rima."
Lectícia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.
Via: Terra Magazine.
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