Dos meus alfarrábios, cuidadosamente guardado há dezenove anos.
O REGRESSO
Robert Lowell (1)
De volta ao meu refúgio, pequeno, distante,
onde os membros da minha gangue
estão calvos, imersos nos negócios,
e os cães me reconhecem pelo faro...
É agora uma cidade morta
na miragem dos meus vinte anos.
Tanto tempo a flutuar,
quebrando-me contra as vagas,
tocando o fundo, apressado
pelo sinal verde
destas águas inquietas, encontrei
minha exaustão, a luz do mundo.
Nada é tão morto como a rua principal de um vilarejo
onde os olmos, veneráveis, morrem e endurecem
como o cimento negro, onde folha alguma
nasce ou cai ou dura até o inverno.
Mas eu me lembro de sua antiga fertilidade,
como tudo explodia claramente
na hora da credulidade
e do verão jovem, quando esta rua
se apagava sob as sombras
e aqui, no altar da rendição,
eu te encontrei,
morte da sede em minha carne breve.
Foi o primeiro impulso,
herdeiro de todos os meus minutos
vítima de cada ramificação –
cada vez mais verde e densa de abrigo.
E agora, ao meu regresso,
os olmos alinhados e nus como postes na rua,
sou um pé mais alto que à minha partida
e já não vejo a poeira a meus pés.
Às vezes, no entanto, surpreendo minha alma
vagando como um olho de vidro
por um nome sem rosto ou um rosto sem nome,
e a cada passo
sou um fantasma. Eles se erguem,
orelhas de cães, e calvos como pássaros recém-nascidos.
(1) Considerado o mais importante poeta norte-americano da geração pós-guerra, Robert Lowell (1917-1977) revitalizou a lírica moderna com temas e dicção extremamente pessoais. História, paisagem, queda, ascendência são mensagens que nos chegam recifradas pela sua escuta nostálgica. Conversões religiosas, internamentos psiquiátricos e protestos políticos se alternam em sua vida marcada pela inquietação. Ao lado de “Lord Weary’s Castle (1944), prêmio Pulitzer de poesia em 1947, “Life Studies” (1959) e “For the Union Dead” (1964) formam o corpo essencial da sua obra.
(Tradução e nota introdutória de Jair Ferreira dos Santos, ficcionista, poeta e ensaísta, autor de Kafka na Cama (Civilização Brasileira).
Via FOLHETIM, 10 de fevereiro de 1985.
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