Marcelo Leite
Se estiver correta, a hipótese do fator X ajudaria a explicar a acelerada expansão evolutiva da inteligência humana.
Marcelo Leite, jornalista de ciência, mantém no caderno ‘Mais!’ da ‘Folha de SP’ a coluna ‘Ciência em Dia’, onde publicou este artigo. Se quiser ler o artigo na íntegra, clique no link abaixo:
Marcelo Leite
Se estiver correta, a hipótese do fator X ajudaria a explicar a acelerada expansão evolutiva da inteligência humana.
Marcelo Leite (cienciaemdia@uol.com.br e cienciaemdia.zip.net), jornalista de ciência, mantém no caderno ‘Mais!’ da ‘Folha de SP’ a coluna ‘Ciência em Dia’, onde publicou este artigo.
"Os dois principais diários paulistanos, ‘Folha de SP’ e ‘O Estado de SP’, publicaram na quinta-feira em páginas vizinhas as notícias do fim da soletração do cromossomo X humano e do voto de desconfiança dos professores de Harvard em seu reitor, Larry Summers.
Nenhuma associação foi feita entre elas, apesar de terem relação direta com a controvérsia deslanchada pelo reitor sobre aptidão inata de mulheres e de homens para a investigação científica. O X, afinal, poderá dar ‘razão’ a Summers.
Quem explicitou o vínculo foi Erika Check, em reportagem na edição do periódico ‘Nature’ em que saíram os artigos científicos sobre o X. ‘Fator X’ é expressão sua.
Usou-a para destacar uma das características mais intrigantes desse cromossomo humano, sua alta proporção de genes influentes no desenvolvimento cerebral – logo, no intelecto.
A hipótese discutida por Check é que a composição do X ajude a explicar não só diferenças de padrões cognitivos entre mulheres e homens, mas também entre humanos e outros primatas.
Como ela diz, ‘por que podemos escrever poesia e projetar armas nucleares, mas chimpanzés, não’.
Se um dia isso for confirmado, será paradoxal. No X estão genes associados a várias formas de deficiência mental, como as síndromes do X frágil e de Rett, além de autismo e epilepsia.
De 221 alterações genéticas associadas com alguma forma de retardo, 10% estão no X (que tem 4% dos genes humanos).
Mulheres têm duas cópias do X. Se uma contiver alguma falha, a cópia de reserva pode talvez compensá-la. Se um homem receber da mãe o cromossomo alterado, manifestará a deficiência.
Isso explica a maior incidência de retardo mental no sexo masculino. Inversamente, o mecanismo valeria também para mutações que favorecessem o que se chama de inteligência.
Se ocorrerem no X, serão manifestadas com freqüência maior em homens, reza a hipótese. E, se no passado evolutivo fêmeas humanas tiverem dado preferência a machos mais espertos, eles teriam gerado mais filhos, e tais genes se espalhariam rapidamente pela população.
Se estiver correta, a hipótese do fator X ajudaria a explicar a acelerada expansão evolutiva da inteligência humana.
Ele estaria na raiz do sucesso da espécie, baseado em capacidades como a de se relacionar socialmente e fazer conjeturas abstratas.
Em termos populacionais, essas características seriam também um pouco mais freqüentes nos machos, como quer Summers.
Uma possibilidade não-contemplada por Check é que a ‘inteligência’ de Summers seja bem mais restrita e correlacionada não com habilidade social, mas com seu oposto.
Alguns seres humanos do sexo masculino teriam maior facilidade para negligenciar obrigações com seus semelhantes e concentrar-se em tarefas abstratas.
Menos mulheres teriam tal ‘privilégio’ – para o bem de todos nós.
É só uma hipótese, mas ajudaria a explicar por que uma mulher, mesmo reitora de Harvard, dificilmente cometeria a asneira de Summers.
(Mais!, Folha de SP, 20/3)
Fonte: JC e-mail 2730, de 21 de março de 2005.
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