Os operários chineses retiram-se, depois de meses, de Libreville, capital do Gabão, da construção da Cidade da Informação, planejada pelo presidente Omar Bongo. A milhares de kilômetros dali, na Nigéria, outros chieneses estão trabalhando, onde adquiriram, por US$ 2 bilhões (R$ 4,52 bilhões), uma participação importante numa jazida de petróleo. Na Mauritânia, eles prospectam o subsolo em busca de combustíveis. No Sudão, eles gerenciam uma usina petroquímica. No Zimbábue, eles assumiram o controle de uma operadora de telefonia móvel. Eles estão reconstruindo as estradas no Ruanda e no Quênia, reabilitando as fazendas agrícolas na Tanzânia, modernizando a rede ferroviária em Angola, participando da exploração florestal em Guiné Equatorial e em Moçambique...
Na foto: O presidente chinês Hu Jintao e seu homogue Omar Bongo em Libreville, no Gabão, em 2 de fevereiro de 2004.
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12/01/2006
China avança seus peões na África
Pequim multiplica os acordos com países do continente negro, enquanto o Banco Mundial se revela tacanho com os mesmos. Metodicamente, os chineses investem e se implantam, em detrimento dos ocidentais
Por Jean-Pierre Tuquoi
Em Paris
Os operários chineses que vinham operando há meses na esplanada do Senado em Libreville, capital do Gabão, terminaram a colocação dos pavimentos em frente ao imponente edifício de mármore branco. Um outro canteiro de obras de grande dimensão espera por eles em frente ao Senado: a construção da Cidade da Informação, planejada pelo presidente Omar Bongo.
A milhares de quilômetros dali, na Nigéria, outros chineses estão empenhando esforços. Mediante o pagamento de US$ 2 bilhões (R$ 4,52 bilhões), eles compraram, na última segunda-feira (9/1), uma participação importante numa jazida de petróleo ao largo da orla do país.
Na Mauritânia também, eles vêm prospectando o subsolo em busca de combustíveis. No Sudão, eles gerenciam uma usina petroquímica. No Zimbábue, eles assumiram o controle de uma operadora de telefonia móvel. Eles estão reconstruindo as estradas no Ruanda e no Quênia, reabilitando as fazendas agrícolas na Tanzânia, modernizando a rede ferroviária em Angola, participando da exploração florestal em Guiné Equatorial e em Moçambique...
Poderíamos multiplicar os exemplos que comprovam que a China avança seus peões na África. Ela o faz de maneira metódica e sem preocupações existenciais. "Ela aceita outorgar empréstimos garantidos pela produção petroleira futura de um país, uma prática que o FMI [Fundo Monetário Internacional] baniu das suas atividades uma vez que ela onera o futuro", constata um alto-funcionário francês.
Ela está interessada em todos os países do continente negro, independentemente do seu regime político ou da sua situação geográfica. Além disso, todos os setores econômicos a atraem, do petróleo às telecomunicações, da exploração florestal às obras públicas.
A fome de atividade é tão grande que ela suscita a preocupação dos ocidentais, para os quais o continente negro, com os seus 54 países, constituía até então uma espécie de reserva de caça. No início do verão, o Congresso americano organizou audições sobre o tema da "influência da China na África".
Na França, o ministério da Economia mobilizou todos os postos de expansão econômica instalados no continente africano, os quais têm por missão fazer um balanço sobre o impacto dos avanços da China neste mercado. A pesquisa exaustiva que foi realizada não foi tornada pública até hoje.
O crescimento poderoso da influência da China é inquestionável. Entre 2002 e 2003, o comércio sino-africano aumentou em 50%, e em 60% no ano seguinte. Mesmo se as quantias em jogo ainda são modestas, Pequim nunca registrou um crescimento tão forte em nenhuma outra área do mundo.
A África Central e a África do Oeste oferecem um bom exemplo da mudança que vem sendo operada. Alguns anos atrás, os Estados Unidos e o Reino-Unido ainda eram, depois da França, os principais fornecedores dos países da região. Em 2003, eles foram superados pela China. A França ainda está em primeiro lugar, mas nada diz que ela manterá sua dianteira.
"A presença chinesa simplesmente explodiu", resume o antigo secretário de Estado adjunto para as questões africanas, Walter Kansteiner, em entrevista ao "Wall Street Journal".
Em certos casos, a China toma o lugar dos ocidentais, aproveitando-se de uma crise. Foi o caso no Zimbábue, em 2002, no momento da implementação de uma reforma agrária controvertida, ordenada pelo presidente, Robert Mugabe, no poder já faz mais de um quarto de século. Quando os ocidentais impuseram sanções, os chineses de repente apareceram. Não precisou de muito tempo para que uma centena de homens de negócios fizesse a viagem até Harare, a capital, para onde eles levaram inúmeros projetos.
Quatro anos mais tarde, os resultados estão aí. Os chineses estão presentes no setor da mineração, nos transportes, na produção e na distribuição de eletricidade, nas comunicações móveis. Considerada como um símbolo desta aproximação, uma linha aérea direta passou a ser implantada entre as duas capitais.
Na Etiópia, o cenário tem sido idêntico. A guerra entre a Etiópia e a Eritréia, no final dos anos 90, afugentou os anglo-saxônicos, enquanto os chineses, ao contrário, foram ocupando os espaços. O balanço é eloqüente: mediante uma grande distribuição de doações, de créditos bancários e de envios de técnicos e profissionais, Pequim adquiriu uma posição de destaque na economia do país. Seja na fabricação de medicamentos, na exploração petroleira ou na construção de auto-estradas, as empresas chinesas se impuseram em Adis-Abeba, onde foi construída uma das mais imponentes embaixadas chinesas do continente.
Garantir o acesso ao petróleo bruto africano para alimentar o crescimento econômico da China parece ser o objetivo prioritário de Pequim, que coleciona as licenças para prospecção na Mauritânia e no Gabão. Já faz muitos anos, Pequim é o principal comprador de petróleo sudanês. O mesmo já começou a acontecer com o petróleo bruto angolano.
Este apetite pelos combustíveis africanos, que representam cerca de 30% do abastecimento chinês, corre o risco, aliás, de entrar em rota de colisão com os interesses dos Estados Unidos, que, para reduzir sua dependência em relação ao Oriente Médio, também fizeram do golfo de Guiné (ou seja, da Nigéria, de Angola e da Guiné Equatorial) uma zona estratégica para o seu acesso ao petróleo bruto.
A "invasão" chinesa preocupa tanto mais que ela não se limita à compra das matérias-primas nem a abastecer em fontes de energia. As empresas industriais chinesas já se posicionam, daqui para frente, em concorrência aberta com as firmas ocidentais, quer se trate de fornecer medicamentos ou equipamentos para o setor das telecomunicações.
As empresas chinesas já começaram a vencer concorrências públicas. Isso aconteceu no Moçambique, onde a operadora pública deu preferência a uma firma chinesa, em detrimento de uma empresa ocidental. Aliás, em Maputo, a capital, o desaparecimento progressivo dos ocidentais provocou uma situação original com a abertura recente de um supermercado onde todos os produtos oferecidos à clientela são de origem chinesa.
Posted by: celia | 19-01-2006 at 15:12