Nem pretendia postar hoje. Ando tão ocupada e cansada... Mas, enfim... o registro sobre a inauguração do Museu da Língua Portuguesa merece um post muito especial.
Embora já tenha sido divulgado aos quatro cantos do mundo pela Rede G., ouso manifestar aqui minha humilde admiração pelo projeto do Museu da Língua Portuguesa, inaugurado hoje em São Paulo. Primeiro do gênero no mundo, foi inaugurado depois de três anos de construção e de restauro de parte das instalações da Estação da Luz (construída em 1901)- onde foi localizado. A Estação é uma das principais do centro metropolitano, com um movimento diário de 300.000 pessoas, e um dos cartões postais de São Paulo.
O museu não poderia estar melhor situado, privilegiando o importante papel da Estação, que, durante muitas décadas, recebeu os imigrantes estrangeiros. Lá, onde outras línguas se encontravam com o nosso português. Além disso, São Paulo é a cidade com o maior número de pessoas que falam português em todo o mundo.
A inovação do projeto está no fato de ser inédito. Inexiste no mundo um museu semelhante, dedicado à língua natal.
O museu ocupa 3 andares da Estação, numa área total de 4333 metros quadrados, e representou um investimento de 37 milhões de reais.
A concepção do projeto e a construção do museu envolveram 30 especialistas em língua portuguesa e mais de 750 trabalhadores que atuaram direta e indiretamente nas obras de restauração e de adaptação do antigo prédio. O projeto museográfico é de Ralph Appelbaum, que assinou também a autoria do Museu do Holocausto, em Washington, e a Sala de Fósseis do Museu de História Natural, em Nova Iorque. Os arquitetos brasileiros Paulo e Pedro Mendes da Rocha, pai e filho, assinaram o projeto arquitetônico.
O museu é dedicado a mais de 200 milhões de pessoas que falam a língua portuguesa em 8 países dos 5 continentes.
Detalhes:
Na entrada do museu está a chamada "Árvore da Língua", escultura de três andares de altura, obra do arquiteto brasileiro Rafic Farah. Nas folhas, são projetados os contornos de objetos, e as raízes são formadas por palavras que deram origem ao português. A árvore é vista através de um elevador, com paredes transparentes, que dá acesso ao terceiro andar, a porta de entrada do museu.
Enquanto sobe pelo elevador até ao terceiro andar, o visitante ouve um mantra especialmente composto pelo artista Arnaldo Antunes que utiliza os termos "língua" e "palavra" em vários idiomas. A Árvore da Língua e a música de Arnaldo Antunes representam o primeiro rito de passagem do visitante, a primeira experiência com a língua portuguesa.
Todos os outros ambientes, como o auditório, a Praça da Língua, a Grande Galeria, a Galeria das Influências, a Linha do Tempo e a Mesa de Etimologia, unem informação à tecnologia, seja com multimídia ou com suportes audiovisuais.
A inauguração do museu abre uma exposição que marca os 50 anos da obra "Grande Sertão: Veredas", do escritor Guimarães Rosa, num espaço interativo e com efeitos de cenografia que recriam o sertão, com as 400 páginas originais, inclusive, as correções do autor. Quem for à casa de banho da exposição, poderá ler frases marcantes do livro, e ver em aparelhos de televisão, especialmente instalados, depoimentos de especialistas sobre Guimarães Rosa.
Investiram na realização do projeto, a Fundação Roberto Marinho, o Ministério da Cultura, a IBM Brasil, os Correios, a TV Globo, a Petrobrás, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, a Vivo, a Eletropaulo, a Votorantim e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).O Museu da Língua Portuguesa conta, ainda, com o apoio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Fundação Luso-Brasileira.
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"[...] causa admiração que tantas diferenças de filiação regional, de classe social, de contingências históricas e de fisionomias individuais tenham alcançado exprimir-se na mesma língua" (Alfredo Bosi, crítico e historiador de literatura)
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Fonte: Folha Online - Gilberto Dimenstein; jornalglobal
Foto da Estação da Luz: jornalglobal.com.br
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Nota:
Assisti pela tv as cenas de inauguração do museu, com os olhos irresistivelmente marejados, surpreendida pela lembrança do meu velho pai, que foi um amante incondicional da Língua Pátria. Professor de latim, português e linguística, respeitado nos círculos acadêmicos, o meu pai, se vivo fosse, com certeza, ficaria comovido com a criação desse museu.
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