De tantas formas gritado
por el yo, el nosostros y el tú,
todo quedó decantado
por la pregunta de siempre:
¿para qué?
[...]
Rosas, nieves, mares,
todo lo florecido marchiló;
quedan sólo dos cosas:
el vacío y trazos del yo.
Golfried Benn
G. Benn, Leben is Brückenschlagen. Gedichte, Prosa, Autobiographiches, Munich, Zurich, 1962, p. 178.
Precisamos lembrar que Chernobyl faz aniversário. 20 anos de uma catástrofe que deverá lembrada ad aeternum.
Não podemos esquecer jamais que o século XX foi pródigo em catástrofes históricas: duas guerras mundiais, Auschwitz, Nagasaki, Harrisburg Bhopal e Chernobyl.
Com o prenúncio de novos conflitos entre EUA e Irã, que envolvem o perigo nuclear, vamos estar atentos para o fato de que ainda é possível lutar contra todas as mazelas decorrentes da visão de mundo cartesiana, do racionalismo hegemônico, do mecanicismo, do neoliberalismo, da globalização, da indiferença, da ignorância; que devemos lutar contra a ciência materialista, determinista, destruidora, cheia de certezas, que refuta o diálogo e as interações entre os indivíduos, entre ciência e sociedade, técnica e política.
Encontramo-nos num processo de franca destruição da natureza, de precarização do trabalho, de alienação de nós mesmos e dos outros. Encontramo-nos divididos no conhecimento, frios em nossas emoções e em nossos afetos, com as mentes técnicas e os corações vazios, sem um trabalho decente e satisfatório, individualizados e profundamente infelizes. Temos um arsenal tecnológico sem precedentes na história da humanidade e um mundo em desgraça, assolado por guerras, em estado de perigo iminente. Um mundo onde não há mais compaixão e solidariedade.
Foi a crença no progresso material desenfreado, no avanço crescente do homem sobre a natureza, foi o domínio da técnica e de seus efeitos sobre a industrialização, com ganas de aumento de produtividade e riqueza, que gerou problemas tão críticos, de dimensão social e escala planetária.
Vivemos numa sociedade de risco. Colocamos o futuro em crise, antes de sua chegada. O planeta agoniza - fruto da nossa visão antropocêntrica - , envolvendo indivíduos, nações, todo o ecossistema. A perspectiva, a longo prazo, é o desemprego e o subemprego ainda mais crônicos.
As soluções devem ser buscadas para que possamos evoluir e reconstruir a humanidade em novas bases.É preciso valorizar o capital humano, as pessoas, os valores humanos e espirituais para que estes transcendam os lucros materiais. Precisamos reelaborar todas as normas e bases de nossa convivência social.
O esgotamento e as misérias da civilização industrial não podem ser remediadas com um stop ou um retorno ao passado. Recebemos dela sequelas controláveis - os riscos - e sequelas não controláveis - os perigos. Sabemos que pobreza é risco controlável. Sabemos que a escassez da água já é uma realidade. Mas, sabemos que, ainda, não nasceram todos os afetados por Chernobyl, que ainda pode resultar em 93.000 mortes potenciais. Que oceanos, espécies e florestas morrem e crianças adoecem irremediavelmente. Sabemos que é possível extinguir a miséria, mas não os perigos de uma era atômica. A constatação de uma contaminação nuclear, equivale à constatação da falta de esperanças pra regiões, países e continentes inteiros.
Contra as ameaças da natureza, aprendemos a construir e a fortalecer as nossas casas, e a desenvolver conhecimento. Em contraponto, não temos proteção das ameaças do sistema industrial. Os perigos se convertem em poluições que consumimos cotidianamente. Viajam com o vento e com a água, estão presentes em tudo e perpassam, atravessam, o que é nos indispensável para a vida - o ar, o alimento, a roupa - todas as zonas protegidas pela modernidade.
A necessidade de salvação e renovação ecológicas do mundo se faz universal. E os temas do futuro não provêm das pautas dos gabinetes dos governantes, muito menos das igrejas do poder, nem da economia, da ciência e ou do Estado. As soluções, ao meu ver, estão na capacidade de auto-organização das nossas bases de cidadania.
O lugar e o sujeito onde se dá a transformação social e o bem comum, onde se garante a paz pública e se mantém a memória histórica, não estão no âmbito do sistema político, mas, de grupos de cidadãos, chegados do nada, da falta de organização, da conformidade levada ao extremo. É aqui onde estamos nós, e devemos fazer a nossa parte. Antes que se plantem outros Chernobyl na nossa narrativa do presente e do futuro.
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