Nessa época de junho frio, nublado, repleto de fumaça, fogos e fogueiras, o nordeste vira um imenso arraial matuto, sonoro e aromático. As festas juninas são uma tradição tão forte do meu lugar, de ricos e pobres, que repercutem do sertão ao litoral. No rádio e difusoras das cidades não falta o forró de raiz, o forró pé-de-serra. No céu, os fogos de artifício, bombas e rojões. No chão, douradas e quentes fogueiras, alegres quadrilhas, simpatias para arrumar casamento, adivinhações, bandeirinhas coloridas. Nas mesas, fartura de aromas e sabores: canjica (curau), pamonhas, bolos de milho, bata doce e pé-de-moleque, galinha de capoeira, macaxeira, cuscuz, queijo de coalho, milho cozido e/ou assado em brasas de fogueira, tapioca, sequilho, munguzá doce e salgado, cocadas de coco.
À parte alguns exageros, gosto dessa festa que tanto me lembra a infância, os meus tempos de menina do interior, as cidades provincianas, as casas dos meus pais, dos meus avós, dos amigos, dos vizinhos - que nessa ocasião ainda se igualam, compartilhando do caldo da mesma cultura. É comum que amigos e familiares troquem pratos de comida, envoltos em coloridos panos, reunam-se para cear e se esquentarem ao calor da fogueira. É usual que animados grupos de amigos e casais procurem os forrós na cidade ou nos caminhos da roça, e dancem a noite inteira, ao cheiro no cangote, ao som da sanfona, do triângulo e do zabumba, do baião de Luiz Gonzaga.
Nessa época, sempre sinto uma vontade irreprimível de voltar ao meu interior. Sei que lá os amigos de outrora já não se encontram; estão distantes, dispersos. Sei que lá o forró universitário inunda os arraiás, e a comida, antes farta, já não abunda todas as mesas. Mas, na essência, a festa não perdeu sua identidade, e sei que, numa esquina qualquer de Juazeiro do Norte ou de Pesqueira, de Santa Cruz ou Guarabira, o que ainda resta daquelas noites iluminadas, me bastaria para ter o meu mundo de volta. Ao menos na saudade do meu passado singelo.
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