Hoje viro uma página importante do meu destino. Melhor dizendo, a vida vira-me uma página e me abre outra de memórias. Desaparece uma das referências emocionais mais importantes da minha infância e juventude, esteio da família, espinha dorsal do tronco familiar Gonzaga-Benício.
O meu querido avô Zuca partiu para uma nova morada, para se juntar a outras pessoas não menos queridas: o meu pai, minha avó materna e avós paternos, e tios.
Ele viveu 91 anos. Deixou um legado de lembranças impagáveis em nossos corações. Na condição de neta mais velha, tive a chance de desfrutar com ele dos melhores momentos de sua juventude e de minha infância de moleca.
Meu avô foi a estabilidade material da minha família, num tempo quando meu pai, jovem, ainda buscava um porto seguro. Foi também o patrocinador das minhas lembranças mais lúdicas de menina: ao levar-me nas férias para sua fazenda, dando-me abrigo, colo, carinho, o amor mais desinteressado, o alimento mais puro, cultivado com o suor do seu rosto, com as mãos calejadas, com o saber popular de homem de campo, mas adentrado na urbanidade.
Ele me deixa experiência de vida, cheiro de mato, paisagens de enchentes, sabor de queijo quente, chuvas de inverno, banhos de rio, cantigas de passarinho, fogueiras de são joão... Ele me deixa um passado. Afinal, quem poderia esquecer a imagem de um avô paternal igual a esse, montado a cavalo ao sol do amanhecer, trazendo bombons de mel-de-abelha em saquinhos de papel de embrulho, fazendo barba com uma navalha sutil, contando histórias de almas do outro mundo?... Quem pôde ter um avô, um avô assim, um avô com todos esses atributos? Quem?...
Sinto não participar do ritual melancólico de sua partida. Choro de mansinho, lágrimas de tristeza, de falta de sua presença que nunca mais será preenchida. Nunca mais.
Sinto um estranhamento de ver que ele leva uma parte de minha genética, enquanto deixa parte dele impressa em todos os seus herdeiros naturais modelados pela mesma genética, pelas lembranças e saudade insolúveis.
Vai, meu padrinho, vai em paz, cumpre o destino que lhe cumpre. Vai com Deus.
Posted by: Evete | 29-07-2006 at 15:10
Posted by: Neuma Jonsson | 19-07-2006 at 04:59