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Para o Pippe, os melhores desejos de mãe coruja: vida longa e feliz!
Bjs, bjs, bjs, bjs, bjs, bjs,.....
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Posted at 20:30 in Amigos, Fotografia, Fuleiragem, Saudade | Permalink | Comments (2) | TrackBack (0)
Sempre que leio ou escuto alguém recitar os versos de Augusto dos Anjos, enaltecendo o pé de tamarindo - sob cujos galhos ele aprendera as lições com o pai e escrevera os seus primeiros versos -, lembro do tamarindo da minha infância. Verde, imponente. Ficava em frente da casa grande, antiga e branca, da Barra, o sítio dos meus avós. Ficava, não. Ainda fica. O tamarindo permanece vivo, presenciando a passagem das gerações de nossa família. Nunca soube quem o plantou. Mas quem o fez deixou-me uma sentinela, presente, a me acompanhar os passos, na senda de minha vida.
Sua imagem é indissociável da casa branca da Barra, das minhas lembranças de infância. Lembrarei sempre que preciso for, quando sentada sob o enorme alpendre, contemplava comovida sua copa, seus amplos braços verdes planando e roçando o vento do Aracati.
Não há cartão postal que se compare às minhas alvoradas cor-de-rosa, aos raios do meu sol particular que, tal como fios de ouro, tecia minhas inesquecíveis manhãs por entre-galhos do tamarindo. Sob a sua sombra, protegia-me do calor do meio dia. Sob sua ramagem, abrigáva-me da chuva. Quantas vezes, sob a sua copa, abria a saia para aparar seus frutos. E do teu ácido tartárico hidratava minha boca, matava minha fome. Em seu tronco, gravei meu nome, escalei, cacei ninhos de passarinhos (coitados!). E vi tantos ocuparem o meu espaço íntimo, onde visitantes amarravam seus cavalos e transeuntes, cansados da lida e da estrada, faziam sua parada.
Meu tamarindo sagrado, testemunha muda de segredos invioláveis do meu povo. Quantas histórias, causos e folclores misturados à tua imagem. Jamais esquecerei dos vagalumes, circundando-te na escuridão da noite. Nem das lendas de almas penadas que circulavam teu perímetro. Jamais, em tempo algum, esquecerei de tuas asas roçando a brisa, nem de tuas folhas cobrindo o meu chão. Jamais.
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Debaixo do Tamarindo
Augusto dos Anjos
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos.
Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!
Posted at 19:39 in Cotidiano, Família, Lugares, Natureza, Saudade | Permalink | Comments (4) | TrackBack (0)
Max Gehringer
Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal. Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro.
Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É.
- Tipo assim... o céu, CÉU...! Aquele com querubins voando e coisas do gênero?
- Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.
Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva.
Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável.
Porque, ponderou, dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.
E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Pois não?
A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?
- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executiva"?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?
- Hã?
- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação.
Com o tempo isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha motivacional impactante, tipo: "O melhor céu da América Latina".
- Fantástico!
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.
- !!!...???...!!!...???...!!!
- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, me parece extremamente atrativo.
- Incrível!
- É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível.
Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que você terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno...
Fonte: Revista Exame
Posted at 02:34 in Comportamento, Feminino, Fuleiragem, Humor | Permalink | Comments (2) | TrackBack (0)
Furtei uma flor daquele jardim.
O porteiro do edifício cochilava,
e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água.
Logo senti que ela não estava feliz.
O copo destina-se a beber, e a flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia,
revelando melhor sua delicada composição.
Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.
Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia.
Temi por sua vida.
Não adiantava restituí-la ao jardim.
Nem apelar para o médico de flores.
Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui
depositá-la no jardim onde desabrochara.
O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que idéia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
ANDRADE, Carlos Drummond de. Histórias para o rei. Rio de Janeiro: Editora Record, 1997.
Posted at 21:45 in Flores, Fotografia, Natureza, Poesia | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
Posted at 21:33 in Fotografia, Natureza | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Posted at 21:27 in Fotografia, Natureza | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
Posted at 20:53 in Fotografia, Natureza | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)