
Lembranças de S.
S., querida amiga. Você não lembra desse momento lépido, passageiro. Mas, eu, sim, de vc. Fomos um encontro do acaso, raro, veloz. Fugaz. Provisório, um ponto a se perder numa longa estrada, envolta na poeira do tempo. Mas, eu lembro, S., da adolescência selvagem dos meninos, do frescor angelical das meninas em flor. Em meias brancas e sapatos de bonecas, perdíamos-nos engolfadas nos burburinhos alvi-negros do imenso pátio estudantil, das escadarias do austero educandário - nas palavras de meu pai. Intermináveis confidências em seus discretos batentes. Ais, suspiros, segredos, flertes, histórias de cumplicidade. A radiola emprestada. As sabatinas de Gazinelly. Lições aprendidas da última flor do láscio. Stop. O tempo parou. Ou foi o automóvel? Haveria de lembrar para sempre daqueles tempos de normalistas. Dos assustados, do sete-de-setembro, praça do colégio, dos shows de auditório, dos faroestes, do clube dos 50. De lá para cá, perco a conta dos números e dos anos, tão eternos e breves, como a vida. Mas, sei que foram muitos e tantos. Casei. Tive fases como a lua. Habitei muitas moradas. Tantas metamorfoses. Fui menina, moça, mulher. Agora, no quase fim da linha. Quase ausente. Não sei se ando mais saudosa dos amigos que não sei, ou daqueles que habitam além do arco-íris. O que mais preocupa, é o silêncio dos tempos.