Cada vez que um ente querido parte da minha casa, leva-me junto. Leva muito de mim, e me deixa grossas as lágrimas.
Não há partida que não doa. Nunca vou deixar de sofrer assim de saudade. Mesmo doendo, a saudade é boa, porque faz da ausência um tesouro. Por que é bom amar e ser amado.
Sempre que meu povo parte, penso no devir. Choro. Corro à soleira da porta, para a estrada, na ânsia de reter o último semblante, a última nuvem de poeira da partida e para acenar com meu lenço branco de adeus.
Adeus é até quando? Quando será o retorno? Terá retorno? Por quanto tempo de novo esperar? E quando se irão mais uma vez?
Sinto medo se, quando, um dia não mais estarei aqui esperando. Ou de que a espera não tenha fim. Medo de que um dia a estrada não mais exista. Que não haja regresso.
Temo a travessia da noite, o deserto, a solidão, o silêncio, o caminho vazio. Que não haja uma ponte para cruzar dois mundos. E não estar em mundo algum. E não entender o sentido das coisas simples. Que meu povo não esteja onde costumo encontrá-lo, seja lá onde for. Que se desate o laço divino que nos ligam.
Temo que a saudade lancinante se revele à mesa, à hora do café.
Será cruel cruzar a praça, ouvir vozes, risos, confundir vultos, sentir cheiros, imagens, imaginárias.
Será cruel o balanço da palmeira, o crepúsculo, o barulho do mar, o som do backyardigans, e o simples miado do gato sob mesa.
Temo deixar de ser. De ser de parte alguma. De ouvir eu te amo e de sentir braços e arfar em volta do pescoço.
Sempre que meus amados partem, deixam-me sozinha, o coração partido, a casa ameaçada, vazia de presenças e repleta de lembranças.
Já não sobrevivo às partidas dos meus entes queridos.
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