Diz que era um lugar de terra seca e desgraçada, mas um matuto perseverante um dia conseguiu comprar um terreninho e começou a trabalhar nele e, como não existe terra bem tratada que deixe quem a tratou bem na mão, o matuto acabou dono da plantação mais bonita do lugar.
Foi quando chegou o padre. O padre chegou, olhou para aquele verde repousante e perguntou quem conseguira aquilo.
O matuto explicou que fora ele, com muita luta e muito suor.
— E a ajuda de Deus— emendou o sacerdote.
O matuto concordou. Disse que no começo era de desanimar, mas deu um duro desgraçado, capinou, arou, adubou e limpou todas as pragas locais.
— E com a ajuda de Deus— frisou o padre.
O matuto fez que sim com a cabeça. Plantou milho, plantou legumes, passou noites inteiras regando tudo com cuidado e a plantação floresceu que era uma beleza.
O padre já ia dizer que fora com a ajuda de Deus, quando o matuto acrescentou:
— Mas deu gafanhoto por aqui e comeu tudo.
O matuto ficou esperando que o padre dissesse que deu gafanhoto com a ajuda de Deus, mas o padre ficou calado. Então o matuto prosseguiu. Disse que não esmorecera. Replantara tudo, regara de novo, cuidara da terra como de um filho querido e o resultado estava ali, naquela verdejante plantação.
— Com a ajuda de Deus— voltou a afirmar o padre.
Aí o matuto achou chato e acrescentou:
— Sim, com a ajuda de Deus. Mas antes, quando Ele fazia tudo sozinho, o senhor precisava ver, seu padre. Esta terra não valia nada.
Stanislaw Ponte Preta. Gol de padre e outras crônicas. 6.ª ed. São Paulo: Ática, 2000, p.106-8 (com adaptações).
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