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Posted at 23:46 in Cotidiano, Família, Fotografia, Saudade | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Foto: Overmundo
Posted at 12:25 in Celebridades, Cultura | Permalink | Comments (4) | TrackBack (0)
Posted at 21:01 in Família, Fotografia, Saudade | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
Por muito tempo, eu já não lembrava o que era, como era, um aboio.
Faz uma semana, retornei, depois de longos anos, ao Angico Torto, uma das fazendas do meu falecido avô, e que agora é objeto de herança. [Angico Torto localiza-se no município de Aparecida, antigo distrito de Sousa, que abriga o vale dos dinossauros, em pleno semi-árido nordestino].
Fui com uma tia fazer um reconhecimento do espólio, na condição de representante da minha mãe inesquecível.
E estava assim, distraída, quando, de repente, escutei o vaqueiro aboiar, tangendo o gado.
Senti uma fisgada no coração. Uma torrente de emoções e lembranças, irromperam como num filme.
Lembrei que, toda tardezinha, quando o meu vô Zuca e seu vaqueiro transportavam o gado do pasto para o curral, um cenário se repetia.
O sol deitava no horizonte. Sempre fazia calor. Do alpendre da casa grande da Barra, eu assistia, todos os dias, ao mesmo ritual, junto com minha avó e tios.
O aboio do vaqueiro misturava-se aos mugidos, que se misturavam à sonoridade dos chocalhos, ao galope do cavalos, ao trotar do gado, ao lamento de Luiz Gonzaga,
"Numa tarde bem tristonha
Gado muge sem parar
Lamentando seu vaqueiro
Que não vem mais aboiar
Não vem mais aboiar
Tão dolente a cantar
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi..."
Em quinze minutos, não mais do que isso, o sol se punha. E uma brisa promissora chegava com a noite e o silêncio no campo. No coração da casa, um outro ritual se enredava: queimava-se o esterco do gado para espantar as muriçocas, acendia-se o lampião a gás, a cozinha entrava em polvorosa, cheiro de café fluía pelas entranhas da casa, enquanto ressoavam os barulhos de pratos, talheres e canecos que timbungavam dend'água dos potes. À zoada da cozinha, cruzavam-se as múltiplas e estridentes vozes que vinham do alpendre, as gaitadas espaçosas das anedotas sobre os sestros e cacoetes de Manoel Benedito. Formava-se um grupo, quase uma multidão, quase uma festa, entre familiares e convivas de seu Zuca Benício, esperando a ceia.
Sim, na Barra, o jantar era ceia. E uma ceia farta de coalhada com açúcar mascavo, munguzá com leite ou toucinho frito, batata doce, jerimum, ovos de galinha de capoeira, tapioca com manteiga de garrafa e queijo feitos em casa pela minha avó Otília. Não esquecendo a gula que, sendo um pecado à parte, exigia sempre carne com muita gordura, um perigo.
A prosa do alpendre se prolongava à mesa, que depois retornava ao alpendre. Contavam-se as novidades, falavam-se sobre pessoas conhecidas e sobre gado, sobre feiras, roçados, relatavam-se causos. Até pairar um clima de bem estar, um silêncio e o relaxamento - apesar do cansaço -, e se esticarem as redes por toda a casa.
Daí, a boca da noite vira uma fresca madrugada, noite escura, estrelada de vias-lácteas, vagalumes, cruzeiro-do-sul e almas de outro mundo. Vez em quando, lá de fora, o inesperado som de um chocalho. A noite adentra sorrateiramente, alheia às batidas do relógio, entre redes armadas e, por entre ressonares dos dormentes, despertados finalmente com a alvorada e o canto da passarada.
Daqueles tempos, até o presente, não sei o que foi feito do encantamento, daquela menina, pelo burburinho da fazenda. Do distanciamento, para tocar os estudos, formar família, e as moradas em sucessivas cidades, mais a dispersão dos parentes, as perdas dos entes queridos; só me restaram a saudade e um vazio, a partilha de um mundo desfeito, jamais reconstituído. Nada trará de volta o meu povo, o meu sertão, meu tamarindo. Somente as ilusões de reencontrar o tempo perdido, despertadas pelo aboio de um vaqueiro, "demoram-se na beira da estrada / E passam a contar o que sobrou."
Eh, ôô vida de gado.
Posted at 23:43 in Cotidiano, Cultura popular, Família, Lugares, Natureza, Saudade | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Proust disse que "a verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ver com novos olhares". Uma das paisagens mais presentes nas janelas de minha infância, era esse morro azul, parecendo, à distância, um réptil majestoso, superior, mas rastejando. Avistava do casarão de meus avós, na Barra. Quantas vezes me peguei a fantasiar sobre a vida deste morro, sobre o que haveria lá e além dele. Como seria ele, de fato, numa visão mais próxima? Justo nos funerais da minha saudosa Lady Laura, num clima de extrema dor e introspecção profunda, eu o encarei com novo olhar. Eis que, de perto, ao vivo, mais me pareceu uma galinha chocando.
Posted at 18:15 in Cotidiano, Fotografia, Lugares, Natureza, Saudade | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
O filme publicitário e o site do Hot Wheels Crashers, da Mattel, podem ser suspensos. O Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) concordou com a denúncia de publicidade abusiva feita pelo Projeto Criança e Consumo no mês de julho.
De acordo com informações do Instituto Alana, o parecer teria afirmado que o site e o comercial de TV são direcionados ao público infantil e incitam a violência, “o que fere o artigo 37 do Código da entidade”.
A Mattel ainda pode recorrer da recomendação.
Íntegra da “Denúncia de Publicidade Abusiva: comercial televisivo e site na internet”, do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana
Fontes: Instituto Alana, Rede Pitágoras
Posted at 10:07 in Comportamento | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Não tem preço.
Ver Naiana lavar a louça à beira do açude, ao amanhecer, foi quase o mesmo que viajar no tempo, rever minha avó Otília agachada, lavando roupa da família no velho açude da Barra, há mais de quarenta anos, em tempos felizes. Enquanto ela, minha avó, lavava, eu ficava por ali, me banhando, mergulhando, brincando com as piabas, fazendo bonequinhos e panelas de argila, ou pelos arredores, procurando ninhos de passarinhos e abrindo as melancias que encontrava além do sangradouro.
Minha avó nem tinha noção que me deixaria essa lembrança para séculos sem fim, amém.
As imagens de minha avó, ora com a trouxa de roupa na cabeça, ora com suas roupas completamente molhadas, com as roupas quarando ou secando ao sol, coloridas ao vento, estendidas nos arames das cercas, evocam todo um passado de costumes e hábitos quase desaparecidos, até mesmo pelo interior.
Essas imagens também me trazem, em cadeia, antigas lembranças de uma figura bem presente nas nossas vidas, em décadas passadas: a lavadeira. Hildergardes Viana fala muito bem da personagem que realizava um dos trabalhos mais árduos, e que eram não somente lavar, mas ainda, passar (engomar) roupa, como profissão.
Minha avó não lavava "pra fora", mas apenas a roupa da família - naquela época, 13 filhos e mais alguns netos. Com sabão em barra (que ela mesma fabricava) e anil. Não existiam a água sanitária, nem amaciante. Para retirar as sujeiras mais difíceis, ela costumava bater a roupa na pedra.
Algumas fazendas não possuíam tanques ou lavanderias, porque não havia água encanada. As mudanças vieram pouco a pouco, mas não sei ao certo o que veio primeiro, se os poços artesianos ou a energia elétrica, trazendo inovações como as máquinas de lavar roupa. Assim, felizmente, minha avó não lavou roupa em açude a vida toda.
Ao falar em lavadeiras, outra lembrança muito forte que me ocorre é a da minha mãe, que foi, desde que se casou, uma dona-de-casa, mas morava na cidade. Como nos primeiros tempos as nossas casas eram simples, a maioria das casas do interior, não tinham lavanderia. A nossa roupa era lavada e passada, literalmente, pelas lavadeiras. Havia os dias certos para tal serviço, assim como, um certo ritual. Era comum juntar-se a roupa suja em sacos feitos especialmente para esse fim. Os de minha casa, eram sempre de algodão, branquinhos, personalizados, com alegres bordados, em que se viam, geralmente uma camponesa ou cenas campestres. Os sacos tinham, quase sempre, dois bolsos externos, um para lenços e outro para meias, e ficavam pendurados na parede do quarto como parte da decoração.
No dia marcado, quando a lavadeira vinha buscar a roupa, minha mãe dobrava um lençol ao meio e o estendia no chão, onde esvaziava o saco e amontoava a roupa sobre o lençol, à qual juntava as barras de sabão e o anil para alvejar a roupa; e depois, amarrava as quatro pontas do lençol, formando uma trouxa. A lavadeira seguia porta a fora com a trouxa erguida na cabeça. Passavam-se dois ou três dias, e ela retornava com a roupa lavada, engomada, normalmente, a ferro de brasa, e dobrada.
Os tempos mudaram tanto. Até mesmo as últimas lavanderias coletivas, que ainda resistem nas pequenas cidades, ameaçam desaparecer, reduzindo mais uma - ou a única - fonte de renda e trabalho para as mulheres - um trabalho precário, não legalizado e penoso. Nos sítios e fazendas, embora as lavanderias já sejam constantes, ainda se vêem muitas lavadeiras lavando roupas em açudes. Nas cidades, com a disseminação das brastemps e dos tanquinhos, a mulher vai, paulatinamente, desistindo dessa atividade braçal.
Foto minha: Naiana lavando louça no Riacho do Barro.
Ilustração: As lavadeiras faziam assim, Jangada Brasil.
Posted at 23:16 in Cotidiano, Família, Fotografia, Lugares, Natureza, Qualidade de vida, Saudade | Permalink | Comments (2) | TrackBack (0)
Com a companhia esfuzinte e charmosa da minha prima Amandinha, a pequena grande defensora dos animais.
Cheguei ontem de uma marcante viagem ao meu reduto do interior, das lembranças e heranças dos meus antepassados.
Todo o repertório de fotos deste passeio está no meu photo album Trilhas do Interior.
Posted at 14:43 in Cotidiano, Família, Flores, Fotografia, Lugares, Meio ambiente, Natureza, Qualidade de vida, Saudade | Permalink | Comments (4) | TrackBack (0)
Posted at 17:34 in Cotidiano, Família, Fotografia, Lugares, Saudade | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)