Seu Hermógenes Martins, uma figura proeminente de Crato, era grande amigo do meu pai. Através deles, conheci, na década de setenta, a esposa D. Aracy e as filhas solteiras do seu Hermógenes, Fátima, Célia e Norma, que seriam, até hoje, amigas do coração. O casal - assim como meus pais - já partiu, mas tenho essa família como referência de amizade ao longo da minha vida. Estamos na terceira geração sem perder o vínculo.
Na época, morávamos em cidades vizinhas (Juazeiro do Norte e Crato), e nossos encontros eram muito frequentes. Eu costumava passar fins de semana na casa deles, onde sempre fui bem acolhida. Crato era uma cidade social e culturalmente bem movimentada, além de ser ponto de encontro entre as juventudes douradas de Crato-Juazeiro e Barbalha.
Adorava acompanhar meu pai em suas visitas ao S.H., independentemente das relações de amizade que tinha com as meninas. Todo encontro com ele era sempre uma aula de cultura, conhecimento, educação e amizade. S.H. era um autodidata, estudioso das riquezas e da cultura de sua terra, de sua gente. Era um gentleman (desculpem o arcaísmo): polido, culto, de boa conversa e, de fino trato, recebia como ninguém. Sua casa era "o point" para intelectuais, artistas, amigos e hóspedes, assim como eu.
Há algum tempo, venho inspirada a escrever aqui sobre o que representou para mim aqueles belos dias no Crato. As lembranças da época, e do nosso convívio, que guardo comigo são motivos para futuros posts. Mas, antes disso, prefiro mostrar aos leitores, a apresentação de S.H. feitos por seu sobrinho-neto, do blog Sonocrato, que, além disso, conta uma historieta pitoresca acontecida nos domínios do S.H.

Seu Hermógenes e D. Aracy, na praça localizada em frente de sua casa, na rua Cel. Secundo. Foto confiscada do Orkut de Fátima, sua filha.
"A CONFUSÃO
O meu tio-avô Hermógenes Martins, tio do Luís, foi um personagem ímpar, no Crato. Homem de pouca instrução formal, mas detentor de um grande conhecimento, fruto de sua incrível curiosidade. Era o geólogo e o paleontólogo do Crato. Conhecia tudo sobre rochas e fósseis. E o Cariri é o maior depositário de fósseis de peixes do mundo. Qualquer cientista que chegasse à cidade, para desenvolver pesquisas, trazia o seu nome e endereço: Coronel Secundo, 8. Cientistas brasileiros, japoneses, americanos e europeus não davam um passo sem ter a assessoria do Tio Hermógenes.
Também dominava, como poucos, os estudos genealógicos. Foi ele quem descobriu onde nasceu o grande Delmiro Gouveia.
Outra característica, que se sobressaia sobre as demais, era a facilidade de fazer amizades. Um dos seus grandes amigos era o notável Luiz Gonzaga, o sanfoneiro e o pai dele. A amizade era tanta que o velho Januário se hospedou durante quinze dias na casa do tio Hermógenes, para submeter-se a tratamento médico, enquanto o filho, famoso e querido de todos, fazia shows pelas cidades vizinhas.
O Tio Hermógenes teve quatro filhas: Ruth, Norma, Fátima e Célia. As três últimas eram pequenas, quando se hospedou o Sr. Januário. Uma delas foi atender alguém que batia à porta e, falando com um vozeirão, disse:
- 'O velho Hermógenes está?'
- 'Está lá dentro'
- 'Pois diga que é o Luiz Gonzaga'.
A menina, meio confusa, pensando no primo Luís Gonzaga, disse para o pai:
- 'Papai, tem um negro lá fora, dizendo que é o Luis Gonzaga!!' ”