Recebi de uma amiga querida, pelo Orkut, essa mensagem que me tocou:
“Crescer acontece num bater de coração. Um dia você está de fraldas, no outro já se foi. Mas as memórias da infância ficam com você. Por um longo tempo. Eu me lembro de um lugar… uma cidade… uma casa. Como muitas outras casas… Um jardim como muitos outros jardins… Uma rua como muitas outras ruas. O negócio é o seguinte… Depois de todos esses anos, Eu continuo olhando para trás… maravilhado! Foram Anos Incríveis!!!”.
Não sei quem escreveu esse texto, mas liguei, imediatamente, esse tema, a um livro que Elias me trouxe hoje da Feira de Livros, para lermos juntos, chamado "Onde foi parar o nosso tempo?", de Alberto Villas. A propósito, reportamo-nos a um post antigo que escrevi aqui no blog.
As relembranças de um passado recente, mas completamente transfigurado diante da realidade presente, principalmente pelas novas configurações de vida, impostas pelas tecnologias, têm sido tema de discussão e recordação em muitos blogs.
Foram o computador e a internet que mudaram todo paradigma, e estabeleceram fronteiras tão marcadas entre o nosso passado recente - década de 60 para 90 - e o presente - da geração de nossos filhos e netos - década de 80 para cá. Outro dia, conversando com meu filho, contei que, na adolescência, possuía duas gavetas no meu guarda-roupa repletas de cartas, fotografias, cartões postais, de natal, de aniversário e telegramas dos amigos. Percebi um certo estranhamento nele sobre o significado teria esse acervo, e sua guarda, como um baú de memórias, na vida de uma jovem. Acredito que ele nunca viu um telegrama. E só conhece a função dos correios como troca de correspondências quando recebe as cartas de D. Sheila, uma gentil senhora que o hospedou nas terras da rainha. Mas, de seu ponto de vista, a principal função dos correios é de entregador de mercadorias, das compras que faz pela internet.
Essas tecnologias mudaram a minha vida, como as de tantas outras pessoas de minha geração, em qualquer lugar do mundo, ainda que em diferentes intensidades. Trouxe novos sentidos, novas paisagens, novos produtos, novos significados para as amizades, novos laços, novas relações.
Neste aparte, posso louvar a internet. Por seu intermédio, fiz novos amigos, reencontrei amigos recentes e outros antigos amigos de infância, de quem havia me distanciado pela vida afora. Sem a internet, não sei quando, e se, esses reencontros teriam ocorrido ou ainda ocorreriam, por tantas estradas, tantas pessoas, tempo e memória, que se interpunham entre nós. Pouco a pouco, venho re-tecendo a colcha de retalhos do meu passado, com aqueles que, como eu, prosseguem na estrada da vida. Somente àqueles que partiram precocemente para outro plano, mantêm-se, nas memórias, com sua juventude, sua amizade e seu antigo contexto inalterados.
Quantos momentos memoráveis, felizes. Quão bela era a nossa juventude. Quão belos éramos nós! Quão bela, simples e ingênua era a vida!... antes da Internet! Mas, não somente antes dela, mas antes da abertura dos costumes, dos hyppies, dos Beatles, do feminismo e do amor livre!
É esse "mundo que vivi/vivemos" que o livro "Onde foi parar o nosso tempo?" vem reconstruir" - nas palavras de Loyola Brandão -, e que todos nós gostaríamos de ter escrito. Por que todos nós, estamos fadados a olhar pra trás, a buscar o tempo vivido. É uma questão só de tempo. Até quem é jovem, gosta de recorrer às lembranças da infância como parte, naturalmente, do seu "passado".
Nem dá para enumerar todas as coisas e momentos do cotidiano que o autor evoca, e que tiveram sentido também em minha vida. Alguns, certamente, tão simples e tão marcantes, ao rememorá-los, me deixaram com uma dor agri-doce aguda e irremediável, por exemplo:
- eu procurava o cruzeiro-do-sul no céu da Barra;
- furava a lata de óleo com prego;
- estudei tanto para o Exame de Admissão que fiz no Colégio N. Sra. Auxiliadora (Colégio das Freiras);
- passava óleo de peroba nos móveis e muita cera no chão (sem enceradeira!) - minha mãe adorava o mosaico brilhando;
- sou do tempo em que as visitas chegavam a nossa casa em qualquer hora do dia ou da noite, sem avisar; mas, na minha cidade, só as casas dos ricos tinham campainha, e, nas nossas, as pessoas batiam palmas na porta ou no portão, gritando "Ô de casa!";
- quantas vezes, ainda hoje, me pego ouvindo minha mãe avisar que "a comida tá na mesa!"; e que ela guardava a comida dos retardatários sobre o fogão, ainda nas panelas reluzentes como um espelho!; pra esquentar era só pegar o fósforo, num porta-fósforo, onde se lia "amor com amor se paga";
- o bolo quente de Dina, que não podíamos comer, porque dava dor de barriga;
- lembro que nosso pai trazia, no sábado, a galinha de capoeira do mercado, para mamãe prepará-la para o almoço do domingo;
- que remendávamos o dinheiro rasgado, e que havia dinheiro de duas cabeças;
- que meu pai costumava dar latas de doce, como esmola, aos mendigos que pediam comida na nossa porta;
- que vi muitas vezes minha avó colocar as roupas ensaboadas ao sol, para quarar, hábito que reproduzi muitas vezes em minha vida de estudante, e ainda, hoje - pasmem -, oriento minha empregada a fazer o mesmo, ante seu olhar incrédulo;
- lembro que não tive bicicleta, nem foto de primeira comunhão;
- que engraxávamos os sapatos, e minha mãe tinha hábitos de clarear os sapatos brancos com pinho sol;
- minha mãe fazia café com coador de pano até o final de sua vida;
- e que ela esperava meu pai todos os dias para jantar.
Posted by: celia | 30-11-2010 at 16:44