Fiz esta viagem com Elias, como indica a data acima, há 29 anos, quando ainda morava em Brasília (morei lá durante 11 anos). Nosso filho ainda não tinha nascido, e foi a minha primeira ida a Minas Gerais, tendo visitado, além de Ouro Preto, Belo Horizonte, Tiradentes, Mariana, Congonhas. Desde então, não voltei mais às cidades históricas, embora tenha retornado inúmeras vezes a Belo Horizonte, a passeio ou a trabalho.
O relato que agora passo a fazer foi transcrito do meu 'diário de bordo', rabiscado logo depois o retorno dessa viagem.
Fomos no mês de julho, quando fazia um frio intenso e geadas ocasionais.
Sinto saudade dessa viagem, pois, além da riqueza cultural e de conhecimento que nos proporcionou, lembro perfeitamente da gentileza, do carinho do povo mineiro. Não esquecemos também a comida deliciosa. Foi a primeira vez que experimentei iguarias como feijão tropeiro, broinha de fubá, galinha com quiabo e polenta, couve à mineira, tutu, costelinha, entre outras. E nos acabamos nos doces e sobremesas. Este é um detalhe que aparece até nas fotos que tiramos. Estou sempre devorando um pedaço de doce. Lembro nitidamente dessa primeira experiência gastronômica em Minas, engordei horrores, pois não me privei de comer ambrosia, arroz doce, goiabada cascão, queijadinha, cocada de todos os tipos. E passamos, até, a incorporar algumas das delícias no dia a dia de nossa família. A couve mineira, por exemplo, é hoje frequente em nossa mesa.
Só lamento que a fragilidade da fotografia não garanta preservação dessas memórias com melhor qualidade. Nossas fotos estão longe de traduzir a boa lembrança que guardamos em nossas mentes e corações das experiências que vivenciamos naquela viagem. O tempo é inexorável. Poucas, das inúmeras fotos que tiramos, estão hoje em condições de traduzir ou de serem exibidas. Desbotaram, perderam a cor, a nitidez. E só permitem uma vaga lembrança do que realmente significou para nós aquela viagem.
Ouro Preto, "Cidade do Aleijadinho" (Antiga Vila Rica)
"Todos os sonhos barrocos deslizando pela pedra."
~ Cecília Meireles
Ouro Preto é o retrato vivo do Brasil Colonial. Patrimônio Cultural da Humanidade, 1ª cidade histórica brasileira a conseguir o título de Monumento Mundial, conferido pela Unesco. É considerada, por estes atributos, um "museu a céu aberto". Possui o maior conjunto homogêneo de arquitetura barroca do Brasil
É uma cidade linda; setecentista, portanto, bem antiga; encravada num vale de montanhas. Conhecida por acontecimentos importantes da história do país. A história da cidade é também permeada de muitas lendas já famosas, guarda segredos e cicatrizes impressas em suas próprias paredes à base de queima de óleo de baleia das antigas minas de ouro. Muitos escravos eram obrigados a atravessar minúsculas aberturas, onde permaneciam o dia inteiro, aspirando a fumaça das tochas, sob forte transpiração, e sufocados com o odor de urina e de fezes.
Por outro lado, a cidade é reconhecida pela coragem e ousadia, o que pode ser constatado no Panteão da Liberdade, onde se encontram os restos dos mártires que tão bravamente lutaram pela independência de Minas Gerais e do Brasil.
Praça Tiradentes: entrada e centro da cidade.
No meio desta praça, esteve exposta a cabeça de Tradentes, fincada em cima de um poste. No mesmo local o povo ergueu a estátua do alferes em bronze e granito. Os prédios coloniais importantes situados nesta praça, são: Palácio dos Governadores e a Velha Casa de Câmara e Cadeia. Ao fundo, parte central do Museu de Mineralogia.
Museu da Inconfidência
Imagem: IBRAM
Na extremidade dos quatro cantos da fachada, foram colocadas estátuas em pedra sabão representando a Prudência, a Justiça, a Temperança e a Força. No centro da torre da fachada, acha-se o relógio, ao qual se refere o inconfidente Claudio Manoel da Costa, em seu poema "Vila Rica":
"Quase aos céus provoca
soberba torre em que demarca o dia
volúvel ponto, e o sol ao centro gira".
Fachada lateral do Museu da Inconfidência, onde funcionaram Casa de Câmara e Cadeia. Seu acervo dispõe de peças de arte sacra, obras de Aleijadinho, documentos, móveis, utensílios e sepultura dos inconfidentes. Ao ser transferida para outro local, a Câmara Municipal (1860) transformou-se em penitenciária. No começo do século XX houve fuga de presidiários, alguns morreram emparedados, outros conseguiram escapar para o esgoto central, cujas paredes de pedra seca eram altas e verticais com capeamento de lajões e fundo de cantaria curva. O prédio funcionou como penitenciária até 1977, quando a planta interna do palácio foi alterada.
Acompanhada do nosso guia, vi no Museu: paredes de larguras imensas, oratórios do século XVIII; prensa do século XIX; armários e mesas do século XVIII; lanternas; luminárias; candeias; sanitários da prisão; cópias dos documentos originais de sentença dos inconfidentes, condenação à forca para Tiradentes e o seu atestado de óbito, que é muito curioso. Peças da forca de Tiradentes, seu relógio. Numa sala, dois túmulos: de Marília (verdadeiro), Bárbara Heliodora (simbólico). Na sala do Panteon dos Inconfidentes repousam os restos mortais dos heróis.
Torre do Museu da Inconfidência, antevendo-se a estátua da Justiça.
O Museu é considerado um dos mais importantes monumentos urbanos do Brasil Colônia, assobradado, e com alguns elemntos tradicionalmente mantidos como torres, escadas e relógios. Suas linhas são de gosto neo-clássico, inspirado no Capitólio de Roma.
Agora, seguimos para a Igreja de Nossa Sra. do Carmo, que fica ao lado do Museu.
Igreja de N. Sra. do Carmo
A igreja de N. Sra. do Carmo é considerada uma das mais requintadas do país. Contou com o trabalho dos melhores artistas da região em sua construção, que inauguraram o estilo rococó em Minas.
O risco da igreja foi feito por Manoel Fco. Lisboa, pai de Aleijadinho. Mais tarde, Aleijadinho foi contratado para fazer algumas modificações no risco do pai. É a igreja mais central de Ouro Preto e única que possui as portas laterais interiores trabalhadas em cedro. No século XVIII era frequentada pela aristocracia de Vila Rica. Tem a fachada encurvada com torres altas de faces abauladas, portadas em pedra sabão com brasão, representando o Monte Carmelo, no qual se vê uma cruz rodeada por 3 estrelas e 2 anjos. Na parte inferior e de cima do brasão, cabeças de querubins.
Foto tirada das escadarias da Igreja de N. Sra. do Carmo.
Veja aqui imagem 360o da igreja.
Congonhas
Congonhas reúne a história dos artesãos e artistas mais representativos de Minas do século XVIII, quando foram convidados para ornamentar o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos.
Preserva-se em Congonhas a memória de Aleijadinho, um dos maiores artistas barrocos de todos os tempos. As estátuas dos doze profetas do adro da igreja foram quase todas esculpidas por Aleijadinho entre 1800 e 1805, quando já padecia de uma grave doença. Algumas apresentam deformações anatômicas, sinalizando a participação de seus auxiliares. Todas as estátuas trazem citações relacionadas com profecias bíblicas.
Uma vida não questionada não merece ser vivida.
~ Platão
Referências:
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