Querem saber?
Dizem que existem os amigos, como existem também os malas que perguntam pela sua tese.
Os amigos são os que lhe convidam pras baladas, pra beber, curtir, levar um papo, lêem os seus rascunhos. Os chatos são os que vivem a lhe perguntar quando termina, vivem lembrando os prazos, com olhar crítico se o encontram em outro lugar que não seja frente ao computador, que censuram se o vêem ligado no orkut, msn, blogando, twittando, olhando e-mails...
Por mais que amigos e malas ainda cruzem o meu caminho, depois de perrengues, brecadas e aceleradas, continuo nessa estrada. Nem adiantou muito me fingir de morta para o mundo. Estourei todos as previsões e prazos acertados com o orientador e com minha consciência, já rezei pra todo santo destrancador de tese, e continuo por aqui, quebrando a cabeça.
Podem falar que sou uma lesma. Nem escuto mais xingamentos ;)
Mas, como dizem que "um dia" acaba, claro que também vou sair dessa.
As razões para o atraso? Todas que puderem imaginar: os trancos e os barrancos, o cansaço, mudança de tema, lentidão na leitura dos textos estrangeiros, branco total, sono pelas noites maldormidas, doenças, tédio, depressão, paralisia, preguiça... Passaria dias falando sobre os diferentes estados de espírito por que passei, incluindo aqueles de alto astral e inspiração... Sim, estes também têm contado...
Gosto do que estou escrevendo, do tema, da literatura, e dos resultados parciais obtidos.
O processo criativo é que nem sempre é prazeroso. Durante a travessia, tanto há momentos e atividades chatos, como muitos lances engraçados e de prazer.
O que é maçante: escrever, escrever, ler, reler, encontrando sempre erros e eros, ou a falta de alguma coisa, mais um autor pra citar, onde já há trocentos; pensar, pensar, retornar ao texto, nem sempre produzir, sentir-se culpada, e continuar, pensando...; citações, bibliografias e rodapés - o repeteco do nome do autor; fazer a citação e esquecer de anotar a página; fazer tabela, também é chato pra caramba; as implicâncias do parceiro - pricipalmente quando não é da área acadêmica - e sua compreensão a respeito do que se está produzindo, as cobranças; o surto quando o orientador cobra o que ainda não foi feito, e a gente fica, assim, hã?..., com cara de paisagem... Tudo isso merece até ser tema de tese.
O que é gratificante (não gosto dessa palavra): é a consciência da nossa capacidade de desenvolver um pensamento crítico sobre o campo de nosso interesse; ver e sentir o processo como um parto e a tese como um filho; a autonomia para falar o que pensamos sobre o que tema; já ter defendido - penso - é o mais gratificante. Se tiver sobrevivido.
Já ouvi alguém dizer que escrever tese, é um processo masoquista. A minha opinião é que, se fazer pós-graduação for uma necessidade pessoal, uma decisão inarredável, é bom que o faça o mais cedo possível, quando se é solteiro, sem filhos, sem um casamento, uma casa pra administrar, contas para pagar.
E os malas... esses, a gente deixa a vida inteira falando sozinhos... afinal, como diz Mário Prata, "tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice", porque depois tem a publicação da tese, em seguida pode vir outra tese....
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O texto de Mário Prata Uma tese é uma tese descreve, de forma bem humorada, os percalços de uma tese.