A nossa ausência neste recinto já está explicada pela viagem que fiz a Juazeiro do Norte, a segunda cidade do Ceará [depois de Fortaleza, of course]. Afora os dias que fiquei sem blogar, concluindo a orientação de uma monografia, mais outros trabalhos acadêmicos (pra não deixar nada pendente) e algumas tarefas práticas para a viagem.
Fui, com maridim e com o Pippe, matar a saudade, depois de três anos sem visitar a família. Sendo que, a última vez que o fiz, foi para me despedir do meu saudoso pai. E não foi por coincidência que, no dia de finados, conforme manda a tradição, tivemos um encontro.
A família continua mudando, assim como a cidade e os amigos. Assim, como a vida.
Só minha mãe é constante em sua alegria de nos receber, a despeito do avanço de sua diabete e artrose. A única irmã que ainda mora lá, fez progressos: depois da separação, resolveu fazer faculdade, arrumou um emprego, e está tratando das cicatrizes, das suas e as de todos, mãe, filhos, ex-sogra e netas. Sua luta continua me comovendo bastante.
As minhas sobrinhas indomáveis, crescem em todos os sentidos. Estão espertíssimas, transbordam vida e alegria a todo momento; nunca havia me divertido tanto com elas, pois ficamos grudadas vinte-quatro-horas-por-dia.
Clarinha, de três anos, aprende tudo numa velocidade incrível, inova o vocabulário a cada dia e incorpora todos os trejeitos da tia Gabi (de sete anos) e da prima Bruna (de quatro). Para desgosto da mãe, que é fã de roquenrol, a Clara só quer saber de rebolar: canta e dança como a Joelma do Calipso. Gabi, que está mudando os dentes, parece uma doce vampirinha. E Bruna é a rainha das passarelas - tudo que quer na vida é ser modelo - e leva jeito. O trio é da pesada. Estão irrequietas, barulhentas (falam tudo e alto, ao mesmo tempo), supercarinhosas, e felizes, muito felizes, graçasadeus.



Provei mais uma vez o temperinho da mamãe, de sua inesquecível galinha de capoeira [caipira].
Revi amigos. E, quando fui procurar notícias de uma grande amiga em particular, que tão longe mora, que não vejo há mais de vinte anos..., eis que, quando estava na casa de sua mãe, ela telefonou. Em segundos, revivemos nossa velha e renovada amizade. Vi as fotos de seus filhos adultos, que eu não os vejo desde crianças; enquanto o meu, que ela ainda não chegou a conhecer, já passa dos vinte anos. A saudade calou fundo, diante instantaneidade e da inexorabilidade desta vida.
A cidade do Juá tem crescido desmedidamente, mas ainda guarda certos usos e costumes, e aquele ar do passado: o mesmo pôr-do-sol entremeia suas antigas e estreitas ruelas repletas de romeiros, de igrejas com a face do Pe. Cícero dominando as mentes, dominando a vida; o mesmo fast-food que combina cajuína com qualquer coisa; as mesmas ruelas que ainda recebem de todas as cozinhas o aroma inigualável do pequi dos meus tempos; as mesmas ruelas repletas de lembranças dos meus amigos queridos e distantes, e daqueles cujas irremediáveis ausências estão marcadas por traços, significados, resquícios de suas presenças em cada calçada, em cada esquina, em cada porta.
Como disse RC: 'essas recordações me matam'...
Não será qualquer globalizaçãozinha ou quaisquer imperativos neo-liberais que irão me convencer que devo ser cidadã do mundo; se minha narrativa não partir, não brotar do meu próprio reino, se não fluir daqueles nos quais me reconheço e para quem jamais cairei no esquecimento. Eu não pronunciarei o mundo, se nele não estiver contido o meu lugar.
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Fotos: Minhas. A primeira, é uma vista parcial da cidade, com o horto do Pe. Cícero em perspectiva, sobre a chapada do Araripe. A segunda, é Maria Clara; terceira, Bruna; quarta, Clara, Gabi e Bruna, nessa ordem.