Para minha felicidade, andaram escarafunchando os baús de Juazeirinho.
Como resultado, algumas das relíquias caíram estrategicamente no meu notebook. Certamente, porque o respectivo marido faz parte da cena. E, menos, porque alguém teria adivinhado que sou aficionada nessa coisa de fotografia vintage. Gosto de relembrar ou de imaginar o passado, perscrutar o clima da cena, os humores das pessoas, os costumes da época, o olho do fotógrafo. Gosto de ver o filme, através da foto.
O registro, dizem, é de 1952. Foto tirada, supostamente, na calçada de uma escola das antigas, da cidade de Juazeirinho, na Paraíba. Talvez, até seja uma das que se chamavam de “escolas particulares”, e que, geralmente, funcionavam na casa da própria professora.
Muitos são os aspectos que se sobressaem a mim nesta fotografia. A partir do meu ‘olhar’, bien sür. No geral, surpreende a perspectiva de visão do fotógrafo. Percebam que ele ‘mirou’ a cena meio que de lado. Fico imaginando as contorções para enquadrar tanta gente, sem cortar cabeças, membros; e se alguns não conseguiram aparecer, simplesmente por uma questão de estatura. O tempo de exposição deve ter sido um esforço à parte. Até que ele conseguisse que todos ficassem inertes, em sentido, de olhares fixos em sua figura (yeahh, todos olham para o retratista), já devia estar suando em bicas. Afinal, Juazeirinho é um lugar de clima quentíssimo, desértico, sem nuvens. Porquanto, deduzo que a foto não foi feita à sombra.
Os detalhes interessantes são inúmeros. E, a cada momento, consigo perceber mais coisas. A moda, por exemplo. As garotas, todas vestindo babados e mangas bufantes, ostentando maravilhosos cachos nos cabelos, arrematados por amplos laços de fitas, quase todos de cor clara. Isso foi marcante nessa década, as roupas femininas eram glamurosas. Ainda alcancei, nos anos 60 os traços remanescentes : a cintura marcada, as saias rodadas e franzidas.
Reparem que as professoras não estão desleixadas. Vestem com simplicidade. Na época, as mulheres eram bem cuidadas, por mais simples que fossem seus estilos de vida, como as jovens da foto. Ainda assim, as faces exibiam, no mínimo, rouge carmim e batom vermelho. Lembro de grandes marcas de cosméticos dessa época (minha mãe e tias usavam): Ponds, Helena Rubinstein... Como na foto, as mulheres costumavam repartir os cabelos ondulados ao meio, ou usavam também coques e rabos de cavalo, ou com mechas curtas e franjas.
Os meninos de roupa de linho, cinto fino e suspensórios – tendência que perdurou até os anos sessenta.
Chamo a atenção para os calçados, ninguém de sandálias ou chinelos, tipo havaianas. Penso que estas ainda não existiam.
Enfim, boa sacada do fotógrafo – não creio que fosse um lambe-lambe -, foto linda, composição maravilhosa, retrô, e deliciosamente, provinciana.