Os meus calendários divergem quanto às datas e terminologias. Enquanto um marca o dia 27 de fevereiro como o Dia do Velhinho, outro indica o dia 28 de setembro como o Dia Nacional do Idoso, e mais outro indica o Dia Internacional do Idoso como sendo o 1º de outubro. Nesta ou naquelas datas, cuido para não esquecer os nossos idosos, ou melhor, de lembrá-los em todos os dias do ano. Há muitas pessoas queridas em minha vida que se encontram nesse momento de suas existências: minha mãe, avô, tios, amigos. Há outras que já partiram e que eu contnuo nutrindo um intenso amor e apreço pela sua memória, pelo que representaram na minha vida: meu pai, avós, tios, amigos.
Eu estava fora de minhas bases digitais no dia 27, mas a minha lembrança estava com eles. E nem poderia deixar de fazer esse registro, como uma homenagem especial à queridíssima Dona Honorina que, há poucos dias, foi habitar em outras dimensões da vida. Ela, que tanto alegrou minha infância e adolescência, em seu caloroso lar-doce-lar de Uiraúna ou dos Pocinhos, com uma alegria tão peculiar que já era marca de sua identidade. D. Honorina foi incomparável em animar e apimentar uma boa conversa. Suas piadas divertidas, tornam-se, agora, inesquecíveis.
Vivemos numa sociedade injusta com nossos idosos. Cada um de nós tem em sua casa, ou em sua família, uma ou mais pessoas idosas, com a(s) qual(is) está se relacionando ou chegará a conviver, mais cedo ou mais tarde. De qualquer forma, cada um de nós, exceto aqueles que morrerão mais jovens, conhecerá a velhice. Precisamos ser solidários com eles, hoje e por toda a vida.
Abordei esse assunto em 2004, em minha página no Multiply e, hoje, indico uma matéria da TPM, escrito por Karla Monteiro.
"VELHA É VOCÊ!
Envelhecer virou doença social. Mas por que tanto medo do tempo? Por que glamourizamos a juventude e endiabramos a velhice? Para tentar entender, fomos atrás de espiritualistas, médicos, filósofos e, claro, da classe em questão: nossas ilustres senhoras. Porque a verdade é uma só: com um pouco de sorte, todas nós envelheceremos.

"Fause Nishida Uraimoto tinha 72 anos quando, caminhando pela praia, viu mulheres com pranchas debaixo do braço e teve uma idéia. Há quatro anos passa os dias deslizando sobre as ondas."
“Jovens, envelheçam.” A ordem é de Nelson Rodrigues, dada em entrevista ao amigo Otto Lara Resende. O recado era para a juventude transgressora dos anos 70. Hoje, soa quase como heresia. Vivemos, talvez mais do que nunca, um modelo social em que a juventude é algo a se agarrar, e a velhice, um mal a se combater. Mas a pergunta que sobra aqui talvez seja: o que, afinal de contas, é ser velho? Com todo o aparato que temos por aí, de quantidade e facilidade de informação a progressos cosméticos, tem gente batendo um bolão em todas as idades e fases da vida. Gente recomeçando aos 50, quebrando recordes aos 60, produzindo freneticamente aos 90 e escrevendo livros aos 20. Por que temos tanto repúdio à natureza: nascer, envelhecer, morrer? Por que queremos ser eternamente jovens? Medo da morte apenas? Vaidade descontrolada? O que, afinal, a velhice tem de tão feio?
“Não queremos a velhice, mas estamos desenvolvendo cada vez mais recursos em prol da longevidade”, afirma monja Coen, uma das líderes espirituais da comunidade zen-budista de São Paulo. “Não dá para querer estacionar na primavera. Tem também outono e inverno”, completa. Sentada em seu escritório, no fundo do templo que comanda, no bairro de Pinheiros, zona oeste da cidade, monja Coen, sem dúvida, encontrou algumas respostas que boa parte continua procurando. Depois de duas horas de entrevista, com a mesma calma com que conduziu o papo, me pediu licença: tinha que ir para casa porque a mãe, de 95 anos, ia morrer (ou transcender, como preferem os budistas) a qualquer momento. “Tenho que levar um padre para fazer comigo a passagem da minha mãe, que é católica. Ela está me dando a benção de acompanhar um processo de morte por velhice”, disse, simplesmente. Na cultura e religião em que ela foi beber a reencarnação é um fato. “Quem tem a capacidade de fluir, renovar, reinventar, não tem idade. Quando nos apegamos, sofremos”, decreta, antes de emendar: “Envelhecer com qualidade não é desistir da aparência, mas estar em contato com essas verdades irreversíveis”.
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